A pioneira agora é nome de rodovia

Enedina Alves Marques: mulher à frente do seu tempo

A rodovia PR-340, entre as localidades de Cacatu e Cachoeira de Cima, em Antonina, no litoral histórico paranaense, será conhecida a partir de agora com o nome de uma ilustre personagem da vida pública paranaense: Enedina Alves Marques, a primeira mulher a se diplomar engenheira civil no Paraná e a primeira mulher negra a alcançar essa posição no Brasil.

O projeto de lei 973/2019, de autoria dos deputados Goura e Do Carmo, já foi aprovado pela Assembleia Legislativa e espera apenas a sanção do governador.

A rodovia Enedina Marques é o acesso à usina Capivari-Cachoeira/Governador Pedro Viriato Parigot de Souza.

Destacam os deputados na justificativa da proposição: “Foi justamente o projeto de aproveitamento das águas dos rios Capivari e Cachoeira para a construção da usina que é reconhecido como o seu maior feito na engenharia, enquanto trabalhou no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica do Paraná da Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas. Ela também trabalhou no desenvolvimento do Plano Hidrelétrico do Paraná em diversos rios do estado”.

Diz o deputado Goura: “A Enedina foi uma mulher que esteve à frente do seu tempo. Não aceitou os padrões sociais injustos e provincianos de sua época. Sonhou e ousou muito. Superou muitos obstáculos para conquistar o seu espaço, mas teve reconhecido os seus méritos ainda em vida”.

UMA VIDA DE LUTAS

Enedina Alves Marques nasceu em Curitiba em 5 de janeiro de 1913, filha de Paulo e Virgília Alves Marques. De infância pobre, os dias se tornaram mais difíceis com a separação dos pais e a dispersão dos cinco irmãos mais velhos. Na adolescência, trabalhou como babá e, a duras penas, concluiu a Escola Normal secundária em 1931.

Deu aulas em escolas de São Mateus do Sul, Cerro Azul, Rio Negro e Curitiba. Fez o curso de madureza no Colégio Novo Ateneu e um preparatório ao vestibular. (Madureza era um curso de duração reduzida, um a três anos, mas intensivo, destinado àqueles que não haviam tido a oportunidade de frequentar normalmente o ginásio ou o científico, hoje ensino fundamental)

Em 1945, aos 32 anos de idade, formou-se engenheira civil pela Faculdade de Engenharia do Paraná. Antes de Enedina, a instituição já havia diplomado 296 engenheiros. Em sua turma, era a única mulher, ao lado de 32 homens.

(Dois registros:  1) A primeira aluna matriculada no curso de Engenharia Civil no Paraná foi Ruth Dória de Oliveira, em 1931, como conta o professor Ildefonso Clemente Puppi, ex-diretor da Faculdade de Engenharia, à página 122 de seu livro “Fatos e Reminiscências da Faculdade”, editado em 1986. Ruth obteve a segunda melhor média global entre os 32 candidatos nos exames vestibulares, cumpriu os dois primeiros anos de Engenharia, mas desistiu antes de matricular-se no terceiro. “Passaram-se quase dez anos para que surgisse a segunda aluna, que foi a primeira a diplomar-se, em 1945, Enedina Alves Marques”, revela Puppi no capítulo “Ex-alunas e professoras”. 2) Antes de Enedina, em 1936, a polonesa radicada no Paraná Biruta Dergint Rawicz formou-se engenheira agrônoma pela Escola Agronômica do Paraná.)

DE CALÇAS E BOTAS

A engenheira Enedina começou a trabalhar na profissão na Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná como fiscal de obras, tendo depois ocupado diversas chefias. Foi chefe do serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura e atuou no levantamento topográfico da Usina Hidrelétrica Capivari-Cachoeira (atual Governador Pedro Viriato Parigot de Souza).

Em artigo para a Revista do Crea-PR, a historiadora Pura Domingues Bandeira e a professora Iara Macedo, da UFPR, destacam que, “de calças e botas – e eventualmente revólver na cintura, dependendo do lugar -, estilo nada comum para as mulheres da época (…) comandou setores importantes no Estado como engenheira fiscal e chefe de áreas como Hidráulica, Estatística e Engenharia. Ela deixou sua contribuição no levantamento de rios e construção de pontes”. Depois de se aposentar no serviço público, trabalhou em empresa de construção civil.

Enedina Marques também participou ativamente de entidades como Instituto de Engenharia do Paraná, União Cívica Feminina, Centro Paranaense Feminino de Cultura e Clube Soroptimista.

Morreu em 20 de agosto de 1981, aos 68 anos, de infarto. Em Curitiba, foi homenageada no Memorial da Mulher, inaugurado em 2000, na Praça do Soroptimismo, no bairro Hugo Langue, como parte das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil. Em Maringá, o Instituto de Mulheres Negras chama-se hoje Instituto Enedina Marques.

Na 63ª Semana Oficial de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, em 2006, Enedina teve seu nome inscrito no Livro do Mérito do Sistema Confea/Creas, dedicado aos profissionais da Engenharia e da Agronomia falecidos que deram sua contribuição ao desenvolvimento tecnológico do país e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Em novembro de 2019, Enedina Marques passou a ser o nome da recém-inaugurada biblioteca da Casa do Estudante Universitário do Paraná/CEU (r. Luiz Leão, 1, ao lado do Colégio Estadual, em Curitiba).

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