Charquetti, o nosso Prêmio Esso

Charquetti, martelando a velha Olivetti: caneta tinteiro em folha de papel jornal/fotos: reprodução O Estado do Paraná

Dia desses, em seu blog, o jornalista Aroldo Murá Gomes Haygert publicou um trabalho do cinegrafista, radialista e memorialista Wasyl Stuparyk sobre o médico e jornalista paranaense Percyval Charquetti.

Texto do jornalista Pedro Rambas, locução de Paulo Branco. Título: “O mendigo doutor”, que achei um tanto depreciativo, embora a matéria seja carinhosa.

Trata-se de um rápido perfil de uma extraordinária figura que militou na imprensa paranaense e que ganhou, em 1956, com reportagem sobre garimpo no interior do Paraná, publicada no jornal O Estado do Paraná, o Prêmio Esso de Jornalismo, láurea maior da imprensa brasileira.

Sua modéstia, sua simplicidade no trajar, a ausência total de vaidade, às vezes confundiam as pessoas. Segundo Rambas, o doutor Charquetti chegou a ser confundido com um mendigo por uma enfermeira novata da Santa Casa de Misericórdia.

Certa vez, o repórter Altamiro Souza escreveu que ele tinha a “cara de Ho Chi Min”, alusão ao lendário líder vietnamita. O jornalista Luiz Geraldo Mazza definia-o como “figura quixotesca”.

Sua barba grisalha se alongava em eriçado cavanhaque.

Percyval Charquetti; Leopoldo Xavier Viana, chefe da expedição do jornal; Aurélio Benitez, editor internacional e crítico de arte; e Raphael Munhoz da Rocha, colunista de turfe: um time de primeira qualidade

Conheci o dr. Charquetti nos anos 1960/70, quando fiz parte do quadro de repórteres e redatores d’O Estado do Paraná, à época dirigido pelo jornalista e advogado João Feder; Mussa José Assis era o chefe de redação. Tempos da sede na histórica rua Barão do Rio Branco, que já foi da Liberdade e Dr. Trajano.

Charquetti, então, atuava como colaborador do jornal, com uma coluna semanal. Seus dias, e noites, na reportagem/redação tinham passado.

Às vezes, escrevia a mão em lauda (folha com marcações de medidas e caracteres) de papel jornal. Com caneta tinteiro, o que causava muitos borrões. O texto descia para ser composto na oficina – havia gráficos especialistas em decifrar seus garranchos – e retornava para os ajustes.

Certa vez, entrevistei o dr. Charquetti em sua residência, no Cajuru, para uma edição de aniversário d’O Estado, ele sentado, rodeado de gatos, ao lado da esposa Isaltina, que era enfermeira.

Charquetti foi médico do 9º Distrito do antigo DNER (Departamento Nacional de Estrada de Rodagem, atual Dnit). Era adorado pelos funcionários das rodovias, assim como pelos gráficos do jornal, que atendia não importava o dia, a hora ou o problema.

Às vezes, ia de ambulância à redação deixar sua coluna. Sempre bem humorado, seu vozeirão se espalhava pelos ambientes.

Charquetti nasceu em Cerro Azul, em 1917. Morreu em Curitiba, na noite de Natal de 1985.

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