O jornalista e advogado Cândido Gomes Chagas, o Candinho, que morreu em 5/3/2012, em Curitiba, aos 79 anos, era um sujeito contraditório, embora coerente, como se isso fosse possível. Aos amigos e à sua Guaratuba, onde passava longos períodos, tudo; aos que classificava de inimigos – e aos políticos que julgava corruptos, às vezes cometendo injustiça – o rigor de uma obsessão que alimentava seus dias.
Nascido em Paranaguá, no litoral paranaense, a mais antiga cidade do Estado, começou sua carreira na rádio Guairacá, em Curitiba, e passou pelas redações dos jornais Diário do Paraná e O Estado do Paraná, já extintos. Em 1965, fundou a revista Paraná em Páginas, cujo foco principal era a política, mas que contribuiu bastante para o resgate da memória paranaense. Publicação, ao longo de quase meio século, de “mensal e ininterrupta circulação”, como fazia questão de constar na capa em todas as edições, até os anos finais, quando foi transformada em trimestral.
Candinho mesclava a crítica feroz aos desafetos com momentos de ternura e dedicação a causas filantrópicas, que encobria com seu jeito áspero e decidido. Certa vez, ao me encontrar no centro da cidade, fez questão de mostrar seu novo apartamento, na rua Carlos de Carvalho. Queria, na verdade, apresentar o que havia comprado, um objeto que qualificou como “um sonho desde a juventude”, agora realizado já na idade madura.
Abriu a porta da frente da residência e ali, em primeiro plano, estava sua conquista: um belo relógio-carrilhão, quase do seu tamanho, que dominava a sala de estar.