Os temperos do Feijão Amigo

Em encontro de 2016, Vitor Daniel e Michelão ladeando o presidente da Fecomércio-PR, Darci Piana
Foto: Antônio Salane

Feijão, arroz, salada, bife e ovo. A receita é simples e é a base, quase um estatuto, de uma instituição que, fundada em fevereiro de 1980, em São Paulo, se espalha pelo Brasil inteiro e já ultrapassou fronteiras nesses 38 anos de atividades.

Feijão, arroz, salada, bife e ovo. Mas o fundamental é o tempero: generosas pitadas de amizade, companheirismo e fraternidade, como destaca o seu presidente mundial, o grande – em altura (dois metros), talento e simpatia – Michel Tuma Ness, o Michelão, que também é o líder da Federação Nacional do Turismo (Fenactur).

Sidney Catenacci e Michelão

Assim é o Clube do Feijão Amigo, criado por Michelão e por Adel Auada, empresários da área de turismo. Auada é o presidente de honra. Os cargos são vitalícios; no Paraná, o comando está com Sidney Catenacci.

Tudo começou com pequenos encontros em torno do feijão no escritório de Tuma Ness. Hoje, o Feijão Amigo reúne dezenas de milhares de executivos da hotelaria, das empresas de transportes (terrestres, aéreos, marítimos), de agências e operadoras de viagens, da imprensa, de entidades das áreas de turismo e eventos, afora os convidados especiais para cada edição.

Os encontros do Feijão Amigo – em almoço ou jantar – não têm periodicidade nem calendário. Acontecem muitas vezes em paralelo a eventos do turismo – como o recente Salão Paranaense de Turismo, de 26 a 28 de abril. Michelão recebeu seus convidados na noite da sexta-feira 27, com a parceria do Bourbon Curitiba Convention Hotel, cujo salão principal ficou lotado. Cada um envergando o avental da entidade. O próximo será em Foz do Iguaçu, dia 21 de junho, por ocasião do Festival de Turismo das Cataratas.

Michelão comandando a noite do Feijão no Bourbon

Na noite do Bourbon, não faltaram as tradicionais homenagens, como a entrega do prato-símbolo da entidade a nomes de destaque. E a direção do hotel extrapolou em muito a fórmula feijão, arroz, salada, bife e ovo. Organizou um verdadeiro banquete.

O Feijão Amigo, como destaca seu fundador, é um clube sui generis: não tem estatutos, os associados não pagam mensalidades e não tem sede própria (“está no coração de cada um”). Quando os patrocínios permitem, vai ao exterior, e já esteve em países como Argentina, Chile, Uruguai, França, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Líbano, Rússia e África do Sul.

E foi realizado até em navio, lancha e no famoso Trem de Prata, que ligava São Paulo e o Rio de Janeiro.

Inspirados no Feijão, hoje existem também os clubes da Salada Amiga e do Arroz amigo.

UM CLUBE POR ACASO

No livro “Clube do Feijão Amigo – Histórias e Estorinhas”, que Adel Auada publicou em 2001 e no qual incluiu artigos de colaboradores, um deles, Roberto Pinto, detalha o nascimento da entidade, falando de Rita dos Santos, “mulher serena, pernambucana de Recife, dona de um talento inigualável com as panelas e temperos”, primeira cozinheira do clube, que nasceu por acaso.

“Na quinta-feira chuvosa de 14 de fevereiro de 1980, os empresários Adel Auada e Wilson Calabresi, acompanhados do jornalista Joel de Andrade Lóes, foram visitar o Michel Tuma Nessa, o Michelão como é conhecido, na sede da Status Turismo, no coração de São Paulo.

Como Michelão não estava, eles aguardaram na recepção da agência. Chegava a hora do almoço e os três, envolvidos numa calorosa discussão sobre os rumos do turismo brasileiro, ficaram embriagados com o delicioso cheiro de comida que emanava da cozinha da agência. Para alegria dos visitantes famintos, surgiu o esperado convite:

– Vão ficar pro almoço? perguntou dona Rita.

Os três se entreolharam e responderam simultaneamente com um sonoro SIM!”

A refeição era tão boa que o grupo marcou nova reunião para a semana seguinte, por coincidência, perto da hora do almoço. Desta vez, o publicitário Claudio Aidar também veio e sugeriu a realização de almoços mensais para alguns convidados.

Michelão, que tinha o costume de reunir informalmente sua equipe de vendas às sextas-feiras, gostou da proposta e decidiu organizar almoços semanais para troca de ideias com o pessoal do turismo, mas com uma condição: era proibido falar de trabalho corriqueiro, tarefas burocráticas, preocupações menores! Nascia o famoso Clube do Feijão Amigo. (…)

O clube cresceu mantendo a sua proposta original: sem estatutos e cobrança de mensalidades, só importando o espírito de fraternidade que une seus membros”.

VITOR DANIEL, O PARCEIRO

Até bem pouco, os detalhes e o cerimonial de cada encontro dos feijoeiros ficavam a cargo do sempre bem disposto e cordial Vitor Daniel, companheiro de trabalho na Fenactur. Vitor morreu em 2017, depois de longa batalha contra o câncer. Foi lembrado por todos, com muito carinho, na noite do Bourbon.

Michel Tuma Ness, aos 80 anos, pensou até em se afastar do Clube, mas foi dissuadido pelo filho Alexandre e por muitos amigos. Por isso, diz que continua na luta, seguindo a trilha do dito cunhado por ele de que “de um pé de feijão nasce uma grande amizade”.

Em cada uma das mesas dos eventos do Feijão, Michelão sempre deixa uma mensagem: “Tudo passa, só a amizade permanece. E nenhum caminho é longo demais quando um amigo nos acompanha, e é no Feijão Amigo onde encontro os companheiros da minha caminhada”.

Poema do feijão

Vinicius de Morais *

Não comerei da alface a verde pétala

Nem da cenoura as hóstias desbotadas

Deixarei as pastagens às manadas

E a quem mais aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas

Talvez pouco elegantes para um poeta

Mas, peras e maçãs, deixo-as ao esteta

Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois

Nem como os coelhos, roedor; nasci

Onívoro: dêm-me feijão com arroz

E um bife e um queijo forte e parati

E eu morrerei feliz do coração

De ter vivido sem comer em vão.

 

(Publicado no livro “Clube do Feijão Amigo – Histórias e Estorinhas”)

* Vinicius era, à época, 1947, cônsul do Brasil em Los Angeles, Califórnia, EUA.

 

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