Regimentos internos e joaninhas

Em recente sessão de votação da reforma trabalhista, na Câmara dos Deputados, em Brasília, o deputado gaúcho Assis Melo, do PC do B, apareceu vestido de operário, com um macacão branco cobrindo do pescoço ao tornozelo, máscara de soldador e luvas. Queria subir à tribuna para protestar contra o projeto. Criou a maior confusão. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse, do alto de seu trono: “Só vai falar no plenário quem estiver vestido de acordo com os costumes da casa.”  Ou seja, de passeio completo.

Semanas atrás, a vereadora de Foz do Iguaçu (PR) Nanci Rafain Andreola, do PDT, propôs aos seus colegas uma resolução que autoriza o uso de roupas coloridas e estampadas durante as sessões, uma iniciativa naturalmente para beneficiar suas colegas e a ela mesma. É que o regimento da Casa só estabelece preto, branco, cinza, azul marinho e marrom para os trajes.

Essas cinco cores haviam sido definidas em 2013, em função das roupas extravagantes do vereador Paulo Rocha (hoje ex), que costumava usar ternos estampados e bastante coloridos e que lembravam super-heróis, conforme o noticiário dos jornais da época.

Numa das sessões, o então vereador Rocha compareceu à Câmara envergando um terno vermelho com bolas pretas, logo batizado de ‘joaninha’.

Em Curitiba, o folclórico vereador Professor Galdino, do PSDB, hoje também ex, teimava em comparecer às sessões vestindo um guarda-pó, como se estivesse em sala de aula.

Esses fatos me fazem lembrar um episódio ocorrido em Brasília, no começo dos anos 1980, ao tempo do presidente João Baptista Figueiredo. Jaime Lerner, então prefeito de Curitiba pela segunda vez, liderou uma caravana de prefeitos de capitais (entre eles o de Maceió, Fernando Collor de Mello, que chegaria à presidência no final da década, assumindo em janeiro de 1990) à Brasília para reivindicar a isenção de tributos sobre o óleo diesel, como forma de reduzir as tarifas do transporte coletivo.

Acompanhei Lerner ao Palácio do Planalto e vi que entre os jornalistas credenciados para cobrir a Presidência da República havia um vestido com um bem cortado terno feito de sacos de estopa. Ao perguntar o porquê da inusitada vestimenta, fui informado que se tratava de um protesto: como, para trabalhar no Planalto é exigido terno e gravata e o tal jornalista havia sido barrado pela segurança por não estar adequadamente vestido, ele simplesmente encomendou ao alfaiate o traje de estopa.

Uma vistosa gravata estampada arrematava a ‘elegância’.

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