A igreja-matriz que virou espaço cultural

Interior da igreja é agora local de apresentações culturais e abriga o acervo histórico/fotos: Marcos Quintana

A Serra Gaúcha, no caminho entre Porto Alegre e Gramado, reserva uma nova atração aos visitantes: o novo Memorial Antiga Igreja Matriz de São Miguel de Dois Irmãos, que conta toda a história de construção do templo, do movimento que evitou sua destruição e da mobilização para que se tornasse a referência cultural que é hoje.

Trata-se da única igreja matriz do Brasil que deixou de servir aos ritos católicos para se transformar no Espaço Cultural Antiga Matriz (av. São Miguel, 434, Centro de Dois Irmãos/RS). Entre as curiosidades da nova área de exposições, estão algumas peças que foram literalmente retiradas do lixo para serem recuperadas, no processo de resgate da memória local.

O Espaço Cultural Antiga Matriz recebe visitantes aos sábados e domingos, das 13 às 17h.  Também é possível agendar visitas para grupos, em outros dias da semana. As novas áreas de exposição física ficam no mezanino e no terceiro andar, na parte inicial da torre, com sua textura de pedras e iluminação especial. No térreo, expositores fixos contam a história da igreja e um totem interativo apresenta toda a memória da Antiga Matriz.

O mezanino, remodelado, virou espaço de exposições

Toda a estrutura já existente, preparada para receber espetáculos de música, dança, teatro, cinema e exposições, segue funcionando, o que transforma o local no mais completo centro cultural da região. “Ampliamos as potencialidades do único equipamento cultural da região com estas características, reunindo arte, cultura e agora também preservação e difusão da memória”, diz Ingrid Arandt, presidente da Associação de Amigos do Patrimônio Histórico e Cultural de Dois Irmãos (AAPHeCDI).

A entidade é a realizadora do projeto do Memorial: “Nosso objetivo era apresentar parte da história da colonização alemã no Rio Grande do Sul e dos 150 anos deste patrimônio da cidade e região, tombado pelo Iphae (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado)”, destaca Ingrid.

Entre os materiais pesquisados, estão mapas, plantas arquitetônicas, croquis, gravuras, fotografias, livros, iconografias, imagens sacras, mobiliário e artefatos litúrgicos relacionados à igreja.

Pela limitação do espaço, a exposição física apresenta uma pequena parte do acervo. Todos os objetos pesquisados estão expostos de maneira virtual e podem ser acessados no totem, dentro do Espaço Cultural, e no site do Memorial. “No meio digital, temos a exposição completa, com todos os registros pesquisados que contam a história deste patrimônio cultural e histórico que é a Antiga Matriz. No espaço físico, a exposição de itens, principalmente objetos litúrgicos que eram usadas na época em que o local funcionava como a igreja matriz da cidade”, explica a coordenadora do Espaço Cultural Antiga Matriz, Vera Maria Rausch.

Algumas peças hoje expostas foram retiradas do lixo, anos atrás, por pessoas da comunidade. Um exemplo são vestimentas de padres, usadas na liturgia. Outra relíquia foi encontrada na rua pelo vice-prefeito de Dois Irmãos, Juarez Stein, e aguarda restauração para ser exposta: uma certidão de batismo do século XIX, assinada pelo padre Guilherme Doerlemann, o mesmo que mobilizou a comunidade para construção da antiga matriz, ainda no século XIX.

Vista externa da Antiga Matriz

O projeto do Memorial Antiga Igreja Matriz de São Miguel de Dois Irmãos foi financiado com recursos do Pró-Cultura, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, numa realização da AAPHeCDI com gestão cultural da Imago Produtora, coordenação técnica da Insito Arquitetura e Restauro e apoio do Grupo Herval, Calçados Wirth, Móveis Ferrari, Serra D´Luz, Like Agência Digital e Germânia Metalúrgica.

Inaugurada em 1880, a Antiga Matriz foi o centro de todos os acontecimentos religiosos e festivos da comunidade católica de Dois Irmãos até 1975, quando foi desativada como templo religioso e substituída por uma nova construção. Iniciava-se ali a mobilização para impedir sua destruição. Em 1982, um abaixo-assinado com quase mil assinaturas solicitava o tombamento como Patrimônio Cultural do Estado, o que ocorreu em agosto de 1984. A incorporação do prédio ao Município de Dois Irmãos se consolidou em 1991, através de uma permuta da Prefeitura com a Mitra Diocesana.

A partir de 1995, a AAPHeCDI passa a elaborar e encaminhar projetos para leis de incentivos fiscais (LIC e Lei Rouanet), com vários deles executados. Em 2010, através de convênio firmado com a Prefeitura, a Associação passou a administrar o Espaço Cultural, que também é protegido por Lei Municipal.

(Com informações da jornalista Adriane Costa/Assessoria de Imprensa)

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