Conversa difícil

Abdo Kudry: padrinho e crítico

Fundador e presidente por longos anos da Associação das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Paraná, mais tarde transformada em sindicato patronal, o empresário, advogado e jornalista Abdo Aref Kudry (1928-2009), diretor do Diário Popular, de Curitiba, era um sujeito simpático e afável – sua gargalhada era memorável -, mas sempre duro e direto quando necessário. Principalmente na relação com os órgãos de governo. Era ele, também, quem dava o tom nas discussões de salários com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná.

Era comum que o doutor Abdo, como era chamado, quando simpatizava com alguém, decidia, sem que ninguém pedisse, apadrinhar essa pessoa, abrindo-lhes portas até para bons empregos.

Com os detentores do poder – vereadores, deputados, secretários de estado e até governadores – era a mesma coisa. Tinha simpatia por uns e verdadeira ojeriza por outros. Aos primeiros, as páginas de seu jornal e, por extensão das dos demais integrantes da associação/sindicato, eram sempre generosas. Os demais, se houvesse motivo, mereciam contundentes críticas.

Fui testemunha de uma conversa telefônica entre o doutor Abdo e um secretário de estado, ao tempo do governo Jaime Canet Junior, que caminhava para o final. O homem do outro lado da linha tinha fama de arrogante e difícil, o diálogo se arrastava e não havia perspectiva de bom termo.

Irritado, Abdo Kudry encerrou a conversa:

– Secretário, quero lhe dizer uma coisa: a tinta de sua caneta está no fim; a da minha, nunca acaba.

E desligou.

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