Homenagem a uma pioneira

Enedina Alves Marques agora é nome de biblioteca

Primeira engenheira negra do Brasil e primeira mulher a diplomar-se engenheira civil no Paraná, em 1945, aos 32 anos de idade, Enedina Alves Marques foi homenageada na noite da terça-feira 19 com a inauguração da nova biblioteca da Casa do Estudante Universitário do Paraná/CEU (r. Luiz Leão, 1, ao lado do Colégio Estadual), que leva o seu nome.

Durante a cerimônia, prestigiada por moradores, ex-moradores da CEU, professores e servidores da UFPR, a figura de Enedina Marques foi lembrada por diversas vezes. O papel da universidade pública como lugar de diversidade e de inclusão marcou o discurso do reitor, Ricardo Marcelo Fonseca: “A universidade se transformou e não é mais apenas um lugar de elite e de gente branca. Muito ainda há de ser feito, mas o perfil mudou”.

Descerramento da placa comemorativa na CEU/foto: Marcos Solivan/Sucom UFPR

A placa inaugural, com a foto de Enedina, foi descerrada pelo reitor e pela estudante de Jornalismo da UFPR Cláudia Santos, que é negra e faz parte de uma nova geração de moradores da CEU. Para Cláudia, “Enedina fez o projeto da Casa e o seu protagonismo não aparece muito na história. Até seis anos atrás, só meninos podiam morar aqui”.

Este é o segundo ano consecutivo que a UFPR celebra a história de uma de suas pioneiras. Em novembro de 2018, também como parte das comemorações do Dia da Consciência Negra, ela foi homenageada com uma placa no prédio administrativo do Setor de Tecnologia.

Além da biblioteca, outros dois novos espaços da CEU foram inaugurados com a parceria da UFPR: o Paulo Leminski, um jardim de inverno proposto para promover a integração dos estudantes estrangeiros, e o Luiz Carlos Borges de Oliveira, sala de informática que terá projetos com a universidade da maturidade.

Ousada e vitoriosa

Enedina Alves Marques nasceu em Curitiba em 5 de janeiro de 1913, filha de Paulo e Virgília Alves Marques. De infância pobre, os dias se tornaram mais difíceis com a separação dos pais e a dispersão dos cinco irmãos mais velhos. Na adolescência, trabalhou como babá e, a duras penas, concluiu a Escola Normal secundária em 1931.

Deu aulas em escolas de São Mateus do Sul, Cerro Azul, Rio Negro e Curitiba. Fez o curso de madureza no Colégio Novo Ateneu e um preparatório ao vestibular. (Madureza era um curso de duração reduzida, um a três anos, mas intensivo, destinado àqueles que não haviam tido a oportunidade de frequentar normalmente o ginásio ou o científico, hoje ensino fundamental)

Em 1945, aos 32 anos de idade, formou-se engenheira civil pela Faculdade de Engenharia do Paraná. Antes de Enedina, a instituição já havia diplomado 296 engenheiros. Em sua turma, era a única mulher, ao lado de 32 homens.

(Um registro: A primeira aluna matriculada no curso de Engenharia Civil no Paraná foi Ruth Dória de Oliveira, em 1931, como conta o professor Ildefonso Clemente Puppi, ex-diretor da Faculdade de Engenharia, à página 122 de seu livro “Fatos e Reminiscências da Faculdade”, editado em 1986. Ruth obteve a segunda melhor média global entre os 32 candidatos nos exames vestibulares, cumpriu os dois primeiros anos de Engenharia, mas desistiu antes de matricular-se no terceiro. “Passaram-se quase dez anos para que surgisse a segunda aluna, que foi a primeira a diplomar-se, em 1945, Enedina Alves Marques”, revela Puppi no capítulo “Ex-alunas e professoras”.)

A engenheira Enedina começou a trabalhar na profissão na Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná como fiscal de obras, tendo depois ocupado diversas chefias. Foi chefe do serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura e atuou no levantamento topográfico da Usina Hidrelétrica Capivari-Cachoeira (atual Governador Pedro Viriato Parigot de Souza).

Em artigo para a Revista do Crea-PR, a historiadora Pura Domingues Bandeira e a professora Iara Macedo, da UFPR, destacam que, “de calças e botas – e eventualmente revólver na cintura, dependendo do lugar -, estilo nada comum para as mulheres da época (…) comandou setores importantes no Estado como engenheira fiscal e chefe de áreas como Hidráulica, Estatística e Engenharia. Ela deixou sua contribuição no levantamento de rios e construção de pontes”. Depois de se aposentar no serviço público, trabalhou em empresa de construção civil.

Enedina Marques também participou ativamente de entidades como Instituto de Engenharia do Paraná, União Cívica Feminina, Centro Paranaense Feminino de Cultura e Clube Soroptimista.

Morreu em 20 de agosto de 1981, aos 68 anos, de infarto. Em Curitiba, foi homenageada no Memorial da Mulher, inaugurado em 2000, na Praça do Soroptimismo, no bairro Hugo Langue, como parte das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil. Em Maringá, o Instituto de Mulheres Negras chama-se hoje Instituto Enedina Marques.

Na 63ª Semana Oficial de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, em 2006, Enedina teve seu nome inscrito no Livro do Mérito do Sistema Confea/Creas, dedicado aos profissionais da Engenharia e da Agronomia falecidos que deram sua contribuição ao desenvolvimento tecnológico do país e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

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