Omissos e coniventes

Nuvens carregadas ameaçam a democracia/foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

Há quase 30 anos – em 1992 – fui à posse de um amigo em Brasília: o engenheiro Ivo Mendes Lima, que assumia a secretaria nacional da Habitação, órgão do então Ministério da Ação Social que era comandado pelo deputado Ricardo Fiúza.

Conheci na ocasião alguns assessores ministeriais e parlamentares. Um deles, cujo nome não me lembro, ao saber que eu era de Curitiba, contou um fato curioso. E triste.

Disse-me ele, que havia trabalhado próximo ao ministro Delfim Neto, ao tempo dos governos militares, e que Delfim costumava reunir periodicamente, em sua residência oficial, parlamentares dos vários estados para um churrasco.

A cada mês, ou dois meses, convidava uma bancada. E os deputados compareciam em peso, todos querendo extrair daqueles valiosos momentos de convivência informal possíveis benesses para seus redutos.

Menos os do Paraná. A um convite de Delfim, certa vez, apenas dois – dos trinta – parlamentares paranaenses marcaram presença, o que teria motivado comentários de decepção por parte do ministro. Tipo: depois não se queixem da falta de atenção do Ministério.

Queimaram o filme.

Faço esse breve recuo na história para um paralelo com os dias atuais: o que faz a bancada de paranaenses no Senado e na Câmara dos Deputados diante do desgoverno desse senhor chamado Jair Bolsonaro?

Algum deles está na linha de frente dos protestos?  Só os vejo na fila da mansidão, do amém, não querendo desgostar o chefão do governo.

Votei no senador Álvaro Dias para a presidência da República no primeiro turno em 2018; no segundo, votei em branco – nenhum dos lados merecia confiança.

Pois bem: Álvaro, que sempre foi tão combativo ao tempo de seus partidos anteriores parece ter encolhido e se esconde quietinho atrás de sua mais nova sigla, o Podemos. Assim como seus dois outros companheiros de bancada, em quem também votei. Uma decepção.

Acabo de ler que o presidente Jair Bolsonaro disse hoje, domingo, em aglomeração comemorativa ao seu aniversário, que “ corda está esticando”, que “faço qualquer coisa por vocês” – reagindo a críticas -, entre outras frases aparentemente inocentes, mas que parecem embutir uma senha para um golpe de estado. Há dias, ele falou em estado de sítio.

E a politicada, com raríssimas exceções – como o senador Randolfe Rodrigues, do distante e pequeno Amapá -, continua calada. Para não cometer injustiças, vi na imprensa algum protesto do deputado paranaense Rubens Bueno.

Não acho que o impeachment vá resolver alguma coisa. Mas é preciso resistir – na trincheira parlamentar – contra o atual estado de coisas, que parece se agravar a cada dia.

O silêncio conivente de tantos pode se transformar em profunda mancha em seus currículos. Se é que os omissos dão importância a isso.

Que Deus ajude o Brasil!

 

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